Espaços Sagrados
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A partir da ideia de espaço sagrado como área legitimada e passível de contato com o Outro Mundo segundo o ponto de vista cosmológico e levando em consideração a dimensão integral do espaço natural, social e sobrenatural como aberta ao sagrado dentro da cultura Celta, a noção de espaço sagrado toma uma proporção generalizada, na qual qualquer tentativa de ritualização cosmogônica a fim de criar um local especial do ponto de vista religioso se tornaria redund
ante.
Entretanto, é notória e vastamente mencionada em estudos arqueológicos, a característica singular de alguns lugares como pontos focais para ritos e cultos para os Celtas, como bosques e grandes indivíduos isolados de certos tipos de árvore, como carvalhos, teixos, freixos, macieiras e aveleiras. Rios, lagos e fontes de água também eram vistos como áreas de culto, assim como as tumbas, em especial os montes funerários, como nos explica a professora Anne Ross.
“The Celts then must have had a variety of holy places, venerated on account of some traditional association with the tribal gods, or having traditionally played some part in cult legend. Carefully preserved groves of trees, wells, individual trees especially in proximity of grave mounds or sacred springs, the grave mounds themselves, or the alleged site of the burial of some divine ancestor, all of these must have been holy to the Celts. Although there is now little or no trace of temple structures in most cases, and although it is difficult to distinguish simple shrines from other ground plans, we must presuppose some shelter in which the cult objects could be house.”
Tradução: “Os Celtas, então, devem ter tido uma variedade de lugares sagrados, venerada por conta de alguma associação tradicional com os deuses tribais, ou que tenham tradicionalmente desempenhado algum papel no culto mitológico. Bosques de árvores cuidadosamente preservados, poços, árvores individuais, especialmente na proximidade de montes funerários ou nascentes sagradas, os montes funerários em si, ou o sitio alegado de enterro de algum ancestral divino, tudo isso deve ter sido sagrado para os celtas. Embora haja agora pouco ou nenhum traço de estruturas de templo, na maioria dos casos, e embora seja difícil distinguir santuários simples de outros planos terrestres, devemos pressupor algum abrigo em que os objetos de culto poderiam ser abrigados”.
Ao que tudo indica havia sim alguns lugares, com condições especiais de relação com o sagrado, e estes eram sagrados em si, sua particularidade era o que o tornava um lugar singular para o contato com os deuses, ancestrais ou outros seres do Outro Mundo. Mas se a natureza propiciava a maior parte destes pontos focais de culto, estes não eram os únicos, poços e montes funerários eram também considerados sagrados e geralmente associados a alguma divindade. Os complexos funerários e os monumentos megalíticos ou os monolíticos, como é o caso de Tara, são sem dúvida extraordinários e sagrados, mas um detalhe chama atenção, eles não são obra do acaso ou da natureza, foram feitos pelo homem. Anne Ross deixa claro que, embora não hajam estruturas cobertas visíveis nos locais naturais usados para culto, é provável que eles existissem, porém, feitos de material frágil que não resistiu ao tempo.
Neste ponto, se fizermos uma reflexão a respeito do significado dessas evidências, podemos perceber que a natureza é sim um fator importantíssimo na sacralidade de um local de culto e Mircea Eliade deixa claro que a natureza possui em si mesma um valor religioso. Mas os Celtas também utilizaram recintos fechados ou abertos, construídos por eles ou apenas adotados como sagrados, e em certas épocas do ano os ritos eram feitos nas próprias casas, pois a locomoção era difícil e perigosa, o que faz das próprias casas locais sagrados também.
“Para o homem religioso, a Natureza nunca é exclusivamente “natural”: está sempre carregada de um valor religioso. Isto é facilmente compreensível, pois o Cosmos é uma criação divina: saindo das mãos dos deuses, o Mundo fica impregnado de sacralidade. Não se trata somente de uma sacralidade comunicada pelos deuses, como é o caso, por exemplo, de um lugar ou de um objeto consagrado por uma presença divina. Os deuses fizeram mais: manifestaram as diferentes modalidades do sagrado na própria estrutura do Mundo e dos fenômenos cósmicos”.
Se analisarmos os mitos, veremos que os deuses Celtas frequentemente aparecem interferindo na vida dos humanos e muitas vezes tomando formas de animais para tal. A mitologia também nos diz que as divindades não só estiveram em contato com o mundo, como viveram nele por vários anos, o que tornaria o mundo em si propenso ao sagrado. Claro que quando falamos em mundo mitológico, estamos nos referindo à Irlanda, mas se pensarmos no contexto da época, o mundo todo estava representado ai.
Enfim, os Espaços Sagrados podem estar diretamente na natureza, em grandes monumentos, dentro da nossa própria casa, ou em qualquer lugar no meio de um caminho, porque é onde podemos entrar em contato com o Outro Mundo e com os deuses. Certamente, um culto com intuitos não só religiosos, mas também sociais, como no caso dos grandes Festivais Celtas precisavam de pontos focais monumentais e de impacto cultural, mas os Espaços Sagrados podem ser muito mais sutis e o Cosmos está repleto deles, se não o for Integralmente.